quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CRISE NO VALE DO VELHO CHICO 28/01/09

  • Vale começa a contar os desempregados
    Texto publicado em 27 de Janeiro de 2009 - 06h24
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    É com o trabalho na agricultura que a economia do Vale se movimenta. Mas, com a turbulência mundial, cerca de 40 mil empregos podem ser cortados, além dos postos que sempre são fechados após a safra. O terceiro dia da série Crise no São Francisco vai debater a preocupação com esse cenário e as projeções para o Vale de agora em diante. Os textos são de Carla Seixas, com fotos de Hélia Scheppa.

    PETROLINA – Os produtores de frutas do Vale do São Francisco só vão conhecer o saldo das exportações (e os seus prejuízos) nos próximos dias, mas um sério problema já começa a crescer na região: o desemprego. Tendo como principal fonte de oportunidades o campo, é de lá que partem os primeiros números alarmantes em decorrência da crise internacional. O próprio Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho já oficializou o cenário, com mais de 2.000 desligamentos em dezembro na agropecuária do Estado – até então promissora. A maioria das demissões foi feita na fruticultura de Petrolina.

    No auge da produção do Vale do São Francisco, estima-se a geração de 240 mil vagas. Normalmente, depois da safra, entre 40 mil e 50 mil pessoas são dispensadas com o fim do trabalho temporário. A diferença é que agora as fazendas também estão reduzindo ao máximo a contratação permanente, com algumas chegando a ficar apenas com menos de um terço do quadro normal para o período. Segundo previsões do setor, cerca de 10 mil pessoas a mais podem perder o emprego por conta da crise financeira.

    O prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio, reforça a preocupação com quem está ficando sem trabalho. Ele é mais pessimista que os empresários. Em vez de prever 10 mil desempregados a mais, diz que o número pode chegar a 40 mil além do normal, elevando o contingente de desocupados para até 90 mil pessoas. “Vai ser uma tragédia para Petrolina. São pessoas que não encontram ocupação facilmente até pelo nível de estudo”, diz. Além do desemprego em si, tal cenário vai ter um impacto cruel sobre toda a economia local, como comércio e serviços que vão sofrer com a retração da renda na região.

    A reportagem do JC, que esteve no Vale do São Franscisco entre os dias 5 e 9 deste mês, chegou a presenciar protestos de demitidos em frete a uma unidade da Copa Fruit porque, mesmo após o desligamento, não haviam recebido o pagamento. Josivaldo dos Santos Clemente era um deles. Depois de trabalhar dois anos e nove meses para a empresa no manuseio de uva e manga, estava sem saber para onde seguir. “Saí de Orocó para trabalhar aqui na região porque tinha oportunidade de emprego. Estou sem saber o que fazer”, lamentava o recém-desempregado.

    Muitos dos que foram desligados faziam parte da contratação temporária da empresa, mas a situação é tão grave que, mesmo com prazo já definido para a saída, foram dispensados antes do tempo. “Vim trabalhar na agricultura achando que seria algo melhor. Já fiz faxina para ganhar dinheiro, mas a renda era de R$ 200. Nas fazendas o salário é melhor”, diz Luzia Maria dos Santos. “O momento pior que estou passando é este. Arrumei até um bico como pedreiro para poder viver”, dizia Cosmo Dantas da Paixão, ao lamentar que, naquele dia especificamente, terminou perdendo um “serviço” porque foi atrás do salário no emprego do campo ainda em aberto.

    O clima e as informações de que as operações nas fazendas estão sendo suspensas têm deixado tensos até os que ainda estão empregados. “Emprego aqui já é difícil, com essa crise... Tenho escutado que muitas empresas estão fechando”, disse Carlos Roberto Martins, que atua na produção de uma vinícola, setor ainda não afetado pela crise.

    Trabalhando em uma empresa que já colocou em prática o corte de pessoal, a Fiacadori Agrícola, Leonildo Santana de Souza, 20 anos, está em Petrolina desde 2004 graças à produção de uva. “Tenho um tio que já foi demitido. Estou me esforçando ainda mais para ficar no emprego”, disse. Dos 34 funcionários que normalmente trabalham na entressafra em uma das unidades da Fiacadori, apenas oito foram mantidos. A demissão incluiu até quem atuava no escritório da empresa. Por enquanto, não chegou até Leonildo.

    Fonte: Jornal do Commercio

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